. Título: Capitães da Areia | . Autor: Jorge Amado | . Edição Lida: Record | . Editora Atual: Companhia das Letras | . Ano: 1980 | . 239 Páginas | . Literatura Nacional | . 5★❤

 

    Olá pessoal!

    Dona Flor e Seus Dois Maridos é um dos clássicos mais famosos da literatura brasileira escrito pelo Jorge Amado que foi publicado em 1966. Novamente eu li na edição bem velhinha de 1981 pela editora Record que pertencia a minha avó e ela me deu de presente. Atualmente as obras de Jorge Amado estão nas mãos do Grupo Companhias das Letras que contém capas maravilhosas. Mas logo vou dizendo... Qualquer edição que você leia de Dona Flor e Seus Dois Maridos, vale muito a pena. 

    A história começa com o falecimento de Waldomiro Guimarães, conhecido popularmente de Vadinho em pleno domingo de carnaval pela manhã. Ele estava vestido de baiana enquanto sambava com os amigos num bloco de carnaval. Ao saber da morte do marido, Florípedes Guimarães ou carinhosamente chamada de Flor, precisou encarar sua vida de luto, sem a presença de Vadinho em sua vida. Para dona Rozilda, mãe de Flor que detestava Vadinho e algumas vizinhas que conviviam com Flor no dia a dia, considerava a morte de Vadinho um grande alivio para Flor, pois o marido era um verdadeiro malandro viciado em jogo. Um boêmio cheio de lábia que não tinha emprego e para piorar a situação, era infiel descaradamente e inúmeras vezes, roubava o dinheiro de Flor para empregar na jogatina.

    Dona Flor era oposto de Vadinho. Trabalhava como professora na sua própria Escola de Culinária conhecida como Sabor e Arte. Talentosíssima, Flor adorava ensinava suas alunas pratos culinários de dar água na boca e sustentava a casa onde ela e Vadinho morava de aluguel e ainda, involuntariamente, o vício do marido. Era uma mulher honesta, inteligente e apesar dos sete anos amargos que viveu ao lado de Vadinho, Flor sentia muita falta do marido. Por isso, os longos meses de luto à Vadinho, foram profundamente severo e mergulhado na tristeza. Entretanto, sendo uma viúva jovem com uma vida inteira pela frente, as vizinhas e amigas de Flor tentaram lhe arrumar um pretendente, que realmente fosse honrado para casar e foi dessa maneira que Doutor Teodoro Madureira, um respeitoso farmacêutico conheceu Flor.

   Em contradição a vida de Vadinho, Doutor Teodoro era um homem de boas condições financeiras, honesto, trabalhador e acima de tudo, não tinha vícios. Teodoro era um homem perfeito para trazer paz e tranquilidade para a vida de Flor. Depois de sete anos de sofrimento com o primeiro marido e sendo uma mulher de bom coração, Flor precisava ser feliz. Então, quando casou-se com Teodoro, dona Flor  conquistou sossego, mas também, um relacionamento fiel e totalmente equilibrado emocionalmente. A diferença entre Vadinho e Teodoro era tão grande que após um ano de casamento com Teodoro, Flor começou a sentir saudades de alguns momentos íntimos que tinha com Vadinho, o marido morto. Apesar dos enormes defeitos de Vadinho, Flor se sentir especial nos braços dele e por mais que Teodoro demonstrava ser um marido espetacular para Flor, na intimidade do casal, ele era pouco habilidoso... Na arte do amor. 

    Para o espanto de Dona Flor, ela tinha hora e dias exatos para fazer amor com o atual marido. Outro detalhe totalmente diferente que Flor vivia ao lado de Vadinho, pois ele era um homem quente e não tinha hora e nem dia marcado para amar Dona Flor. Após a festa de aniversário de um ano de casamento de Flor e Teodoro, onde a comemoração foi festejada o dia inteiro na casa do casal, Doutor Teodoro resolveu levar os últimos convidados até o bonde e Dona Flor ficou em casa esperando o retorno de Dr. Teodoro para finalizar a noite. Contudo, ao entrar no quarto, Flor acabou enxergando Vadinho em sua cama, que havia retornado do mundo dos mortos para matar as saudades de Dona Flor. Acontece que Dona Flor é uma mulher honrada e não quer trair Teodoro porque é um homem muito bom para, mas também, não consegue esconder a satisfação de ter o fantasma de Vadinho em sua casa. Flor é a única pessoa que consegue ver Vadinho, porém sentia-se dividida entre o marido morto e seu atual marido.    

   A leitura de Dona Flor e Seus Dois Maridos é bem fluida e contém um ritmo constante como imaginei. Dividido em cinco partes, o livro mostrou o desenvolvimento de cada personagem com detalhes, principalmente da Dona Flor. Contém vários flashbacks mostrando o primeiro casamento de Flor ao lado de Vadinho, não deixando de fora como ela conheceu Vadinho numa festa chique onde ele tinha entrado de penetra. Também apresentou como Flor enfrentou dona Rozilda para ficar com Vadinho quando a mãe de Flor descobriu quem era o genro. Mas já era tarde, pois Flor estava perdidamente apaixonada pelo Vadinho. Cada detalhe foi mostrado para o leitor enxergar que o relacionamento deles não foi fácil para Flor e os motivos dela permanecer casada com um marido tão mulherengo e boêmio. Flor é uma personagem maravilhosa. Durante a leitura, tentei  compreender os motivos dela entrar em conflito quase no final da história antes de encontrar sua total felicidade.

   Vadinho era um marido ausente, malicioso, gastador, safado, impulsivo e repleto de vícios. Os defeitos de Vadinho eram muitos, mas ele amava Dona Flor do jeito louco dele, enquanto Teodoro, por sua vez, era completamente oposto de Vadinho e também amava Dona Flor do seu jeito controlado para nada sair errado. O doutor Teodoro era controlado, correto, fiel, digno, respeitoso, discreto e marido presente na vida de Flor. Um verdadeiro santo que trouxe alivio e estabilidade para a vida de Flor, que levava muito a sério seu trabalho e seus encontros com o grupo musical da Orquestra de Amadores Filhos de Orfeu, seu único lazer. Resumindo melhor, Vadinho tinha a única qualidade que Teodoro tinha pouca para trazer a felicidade total na vida de Flor e era justamente essa qualidade que Flor sentia falta. 

   A obra de Jorge Amado ganhou a primeira adaptação em 1976, com direção de Bruno Barreto, tendo Sônia Braga no papel de Dona Flor, José Wilker como Vadinho e Mauro Mendonça como Doutor Teodoro. Em 1998 Dona Flor e Seus Dois Maridos tornou-se minissérie adaptada por Dias Gomes. Desta vez, Giulia Gam sendo Dona Flor, enquanto Edson Celulari na pele de Vadinho e Marco Nanini dão vida a Teodoro. Dirigida por Pedro Vasconcelos em 2007, a história de Dona Flor e Seus Dois Maridos ganhou os palcos e transformou-se em peça de teatro tendo Fernanda Vasconcellos interpretando Dona Flor, também assisti no teatro aqui em Minas Gerais, com a Carol Castro sendo Dona Flor, Marcelo Faria como o devasso Vadinho e Duda Ribeiro como o respeitoso Teodoro.  

   A última versão da história foi em 2017, trazendo novamente Pedro Vasconcelos na direção, Juliana Paes como Dona Flor, Marcelo Faria sendo Vadinho e Leandro Hassum interpretando, o farmacêutico Teodoro. Eu assisti todas as versões e foram ótimas, no entanto eu prefiro a primeira adaptação de 1976. Primeiro porque conheci a história através dela e sempre que passa no canal Telecine Cult e eu assisto e me divirto muito o filme. Mas afirmo em dizer, por mais que a adaptação seja maravilhosa, ler o livro sempre é uma experiência única e conhecer a versão literária de Dona Flor e Seus Dois Maridos não foi diferente. Eu amei!

   Enfim... Amei ter experiência com a escrita de Jorge Amado e não vejo a hora de ler mais um livro de Jorge Amado. Confesso que fiquei com muita vontade de fazer as receitas de Dona Flor que contém no livro. Recomendo a leitura Dona Flor e Seus Dois Maridos para quem ainda não leu e deseja lê-lo, para os leitores que gostam de clássicos, especialmente da literatura brasileira ou deseja reler e recordar os trechos dessa história cheia de sabores.  

 

“Da parede da sala tinham sido retirados os retratos coloridos de dona Flor e do primeiro esposo. Em seu lugar, na véspera do casório, foi posto o quadro de formatura do farmacêutico.... Não ficava bem manter o falecido a presidir a casa.”

 

   Sobre o Autor:

  Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912, em Itabuna, na Bahia, filho de João Amado de Faria e Eulália Leal. Começou a escrever profissionalmente como repórter aos catorze anos, em veículos como Diário da Bahia, O Imparcial e O Jornal. Na década de 1930 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde estudou direito e travou contato com artistas e intelectuais de esquerda, como Raul Bopp, Rachel de Queiroz, Gilberto Freyre, Graciliano Ramos, Vinicius de Moraes e José Lins do Rego. Estreou com o romance O país do Carnaval (1931). Durante o Estado Novo (1937-45), devido à sua intensa militância política, sofreu censuras, perseguições e chegou a ser detido algumas vezes. Foi eleito deputado federal pelo PCB em 1945. Entre os projetos de lei de sua autoria, estava o que instituía a liberdade de culto religioso. Nesse mesmo ano, conheceu Zélia Gattai, com quem se casou, teve dois filhos, João Jorge e Paloma, e viveu até os últimos dias. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1961, e ganhou prêmios importantes da literatura em língua portuguesa, como o Camões (1995), o Jabuti (1959 e 1997) e o do Ministério da Cultura (1997). A partir da década de 1980, passou a viver entre Salvador e Paris. Sua obra está publicada em mais de cinquenta países e foi adaptada com sucesso para o rádio, o cinema, a televisão e o teatro, transformando seus personagens em parte indissociável da vida brasileira. Jorge Amado morreu em 2001, alguns dias antes de completar 89 anos.

 

   Beijos e até a próxima!