.Título: O Vilarejo | . Autor: Raphael Montes | . Editora: Suma de Letras | . Grupo Companhia das Letras | . Ano: 2015 | . 96 Páginas | 1ª Edição | . Gênero: Terror/Horror | . Literatura Nacional | . 4★

 

  Olá pessoal!

  A primeira vez que li o livro O Vilarejo, escrito pelo Raphael Montes e publicado pela Editora Suma de Letras, foi durante o distanciamento social no início da pandemia de Covid-19, que o Grupo Companhia das Letras disponibilizou em formato digital. Lembro que fiquei bastante surpresa com a escrita do autor e fiquei curiosa para ler outras histórias do Raphael Montes. Tanto que conquistei outros livros junto com O Vilarejo e aproveitei para fazer uma nova leitura. Posso dizer que permaneceu sendo deliciosamente sombrio.

   O Vilarejo é estruturado em sete histórias que entrelaçam para oferecem ao leitor uma trama sobre a decadência de um vilarejo. Nas primeiras páginas do livro, o próprio Raphael Montes conta que recebeu uma ligação do Maurício Gouveia, um sócio do sebo Baratos da Ribeiro, em Copacabana no Rio de Janeiro. Maurício havia adquirido uma coleção gigantesca de mais de sete mil livros de uma senhora chamada Elfrida Pimminstoffer que havia falecido e entre os livros tinha três cadernos muito finos, com capas de couro, com textos escritos à mão e várias ilustrados em língua estrangeira conhecida como cimério. Ana, a bisneta de Elfrida, que havia vendido os livros para o sebo, não queria os cadernos de volta e Maurício decidiu perguntar para Raphael, se ele tinha interesse em analisar os cadernos da Senhora Elfrida Pimminstoffer.

   Enquanto analisava as páginas dos cadernos, Raphael pesquisou pela internet sobre o padre  chamado Peter Binsfeld, que viveu na Alemanha no século XVI e ficou famoso pela classificação dos Sete Reis do Inferno. De acordo com o trabalho do padre, cada demônio era responsável de invocar um pecado capital nos seres humanos. Raphael também descobriu que precisava de ajuda para traduzir os cadernos e o único estudioso de cimério no mundo era o professor Uzzi-Tuzii que morava na Itália. Quando Raphael apresentou os cadernos, o professor ficou assustado e recusou o convite de traduzir os texto para o Raphael. Com a insistência em descobrir o conteúdo dos textos, o professor acabou oferecendo ao Raphael um dicionário cimério-italiano para ajudar na tradução dos textos. 

   Depois de meses de dedicação, Raphael terminou a tradução dos cadernos com as histórias que se passaram no vilarejo perdido entre as montanhas do leste europeu, que foi assolado pela fome e pelo frio devastador. Tudo que contei até o momento, é apenas  algumas informações do prefácio e dessa forma, o leitor tem acesso à primeira história intitulada, Banquete Para Anatone, que contém elementos focados no pecado da Gula. Felika e seus três filhos estavam enfrentando o frio insuportável no vilarejo e aguardando o retorno de Anatone, que havia saído para caçar algum animal para matar a fome de sua família. Para Felika e as crianças não morrerem de fome, ela resolveu poupar os alimentos que ainda tinha em casa e rejeitava a presença de qualquer pessoa da vizinhança para não dividir o pouco alimento que tinha em casa. Após dois meses, Anatone retornou feliz por ter conseguido alguns animais para alimentar sua família, porém ficou completamente chocado com a cena bizarra que encontrou dentro de casa. 

   Com detalhes que vai interligando uma história com a outra, o leitor encontra uma escrita fluida e com ótimo desenvolvimento. Mas devo alertar que ela fluída, porque o livro contém poucas páginas. Dá para ler em um dia, mas dessa vez, li sem nenhuma pressa e curtindo cada detalhe do livro. Também quero ressaltar que o leitor precisa se sentir confortável com o gênero horror e terror para o livro oferecer uma boa experiência literária. Além da história macabra de Felika e Anatone, as histórias seguintes continuam mostrando as atrocidades que o seres humanos têm capacidade de fazer perante a miséria e o frio. Raphael consegue mostrar que uma pessoa com boas intenções pode se transformar num monstro e provocar muita repulsa. Não vou entrar em detalhe nas outras histórias para não estragar a experiência dos leitores que ainda não leu O Vilarejo, entretanto, posso dizer que O Vilarejo não brinca em serviço quando se trata de horror e terror.

   O medo é relativo para cada leitor, algumas pessoas são mais sensíveis e outras contém uma mente que não abala facilmente. Por isso, leia com cautela se você tem curiosidade em conhecer a escrita do Raphael Montes, pois as histórias que ele cria, geralmente são pesadas e precisa ter uma mente e um estômago forte.

 

“O vilarejo vem sendo dizimado a cada dia. As mortes são frequentes e o luto se sentou à mesa. Ninguém chora os mortos. Não podem desperdiçar energia lamentando a partida dos que não suportaram o frio e a fome.”

 

    Sobre o autor:

   Raphael Montes nasceu em 1990, no Rio de Janeiro. Advogado e escritor, publicou contos em diversas antologias de mistério, inclusive na Playboy e na prestigiada revista americana Ellery Queen Mystery Magazine. Suicidas (Saraiva), romance de estreia do autor, foi finalista do prêmio Benvirá de Literatura 2010, do prêmio Machado de Assis 2012 da Biblioteca Nacional e do prêmio São Paulo de Literatura 2013.

 

   Beijos e até a próxima!