. Título: Boca de Ouro | . Autor: Nelson Rodrigues | . Editora: Nova Fronteira  | . Ano: 2012 | . 2ª Edição | . 128 Páginas. Literatura Brasileira | . 4★

 

   Olá pessoal!

   Considerada uma enigmática tragédia carioca, Boca de Ouro é uma obra escrita pelo pernambucano Nelson Rodrigues em 1959, que foi encenada em São Paulo primeira vez em 1960 e no Rio de Janeiro em 1961. Chegou ao cinema pela primeira vez, nas mãos do diretor Nelson Pereira dos Santos em 1963 com Jece Valadão na pele do Boca de Ouro. A segunda adaptação estreou em 1990 com diretor Walter Avancini e Tarcísio Meira interpretando Boca de Ouro e adaptação mais recente, foi lançada em 2019 com direção do Daniel Filho e Marcos Palmeira sendo bicheiro Boca de Ouro. Composta por três atos, a história começa com Boca de Ouro, um temido e respeitado banqueiro de jogo de bicho em Madureira na sala do dentista. 

   Por causa da sua ambição, Boca de Ouro mandou o dentista arrancar todos os seus dentes brancos e perfeitos para implantar dentes de ouro. No início, o dentista recusou o serviço, mas com os argumentos do Boca de Ouro e a grande oferta de dinheiro, o dentista fez o serviço. Logo em seguida Boca de Ouro foi dado como morto e a redação do jornal O Sol, resolveu enviar o  repórter Caveirinha e o fotógrafo são designados para entrevistar a ex-amante do bicheiro. A intenção do jornal era conseguir uma história exclusiva sobre o Boca de Ouro com a Dona Guiomar, também conhecida como Guigui. Acontece que Dona Guigui resolveu apresentar três versões conflitantes da mesma história, pois cada versão dependia do estado emocional dela. 

   Na primeira versão, Dona Guigui contou que um rapaz chamado Leleco precisava de dinheiro para enterrar a sogra e recorreu ao Boca de Ouro para salvá-lo. No entanto, Boca de Ouro cobiçava a mulher de Leleco e mandou o rapaz telefonar para esposa, pois ele iria entregar o dinheiro nas mãos de Celeste. Dona Guigui relatou que Boca de Ouro era um homem insensível que usava o dinheiro para humilhar as pessoas e quando Celeste chegou, Leleco e Boca de Ouro desentenderam. Boca de Ouro demonstrou que não tinha nenhuma intenção de emprestar o dinheiro e Leleco, para fazer raiva, decidiu mencionar as condições que Boca de Ouro nasceu. Boca de Ouro havia nascido no banheiro de uma gafieira e a mãe o deixou na pia do banheiro. Enraivecido por ter sido lembrado das suas origens, Boca de Ouro matou Leleco com bastante crueldade e tomou Celeste para ele.  

   O segundo ato começa com Agenor, marido de Dona Guigui, ouvindo a mulher expondo o crime. Com medo de sofrer uma represália do Boca de Ouro, resolveu pedir a mulher para terminar com as revelações e esquecer o ex-amante dela. Para tranquilizar os nervos de Agenor, Caveirinha e o fotógrafo contaram sobre a morte de Boca de Ouro. Diferente dos nossos dias atuais, as informações chegavam à passos lentos e Dona Guigui, num ato desesperado de ter perdido seu grande amor, comunicou que mentiu nos fatos da primeira versão do crime por causa da mágoa de ter sido abandonada. Sendo assim, Dona Guigui decidiu contar uma nova versão dos fatos, omitindo que Boca de Ouro assassinou Leleco e transformando Boca de Ouro em um homem mais humano e amigo do povo. 

   Na segunda versão, D. Guigui contou que Boca de Ouro quase sofreu um golpe do Leleco, que era um gigolô violento e Celeste uma mulher infiel e ambiciosa, que desejava ficar na companhia do Boca de Ouro por causa do poder e dinheiro. Contudo, Agenor ficou irritado com a maneira amorosa de D. Guigui com Boca de Ouro e resolveu arrumar as malas para abandoná-la. Por causa da desavença e quase separação entre D. Guigui e Agenor, o terceiro ato começa com Caveirinha e o fotógrafo ajudando na reconciliação do casal. Dessa forma, D. Guigui decidiu contar a terceira versão diferente da história com Boca de Ouro sendo um homem intimidador, mas também repleto de insegurança.

   A leitura de Boca de Ouro foi uma excelente estreia com a escrita do Nelson Rodrigues. Confesso que já tinha escutado comentários e lido vários elogios sobre suas obras, mas não imaginava que era tão boa. Boca de Ouro é um personagem que aparece somente na primeira cena durante a visita ao dentista. Depois disso, ele é apenas mencionado pelos demais personagens. Especialmente pela Dona Guigui que mostrou ser uma narradora cheia de controversas. Após as três versões diferentes de Dona Guigui, o leitor fica incumbido de desvendar a verdadeira imagem do Boca de Ouro no desfecho da história. Não vou entrar em detalhes do segundo e terceiro ato, além das informações que já mencionei, porque vale a pena o próprio leitor ler e conhecer as mudanças de comportamento da Dona Guigui. 

   Pensando bem... Se no primeiro ato Boca de Ouro matou Leleco ao ouvir o insulto do rapaz, no segundo ato, Dona Guigui resolveu acrescentar um trio de grã-finas que fazem parte da Campanha Pró-Filhos dos Cancerosos que foram visitar Boca de Ouro. Contudo no terceiro ato, Dona Guigui apresentou apenas a grã-fina chamada Maria Luísa.  Enfim... Meus primeiros passos com a escrita de Nelson Rodrigues foram positivas com a leitura de Boca de Ouro e pode ter certeza, quero conquistar mais livros. Boca de Ouro é uma peça teatral que ganhou um espaço na minha estante e será relida sempre que desejar. Para quem gosta de ler de literatura nacional divertida, vale dar uma chance para essa tragédia carioca e conhecer Boca de Ouro nas versões de Dona Guigui. 


Confira todas as resenhas de Boca de Ouro

   

“Mataram o Boca de Ouro, o Al Capone, o Drácula de Madureira, o D. Quixote do jogo do bicho, o homem que matava com uma mão e dava esmola com a outra.”

 

   Sobre o autor:

   Nelson Rodrigues (1912-1980) nasceu no Recife e ainda adolescente começou a exercer o jornalismo, área em que se destacou como cronista e comentarista esportivo. Escreveu contos, romances e também 17 peças de teatro, inaugurando e consolidando o modernismo na dramaturgia nacional. Muitos de seus textos foram adaptados para cinema e televisão, o que reforça a vitalidade de sua obra e o interesse que ela desperta há várias gerações.

 

   Beijos e até a próxima!