. Título: O Pagador de Promessas | . Direção: Anselmo Duarte  | . Roteiro: Anselmo Duarte e Dias Gomes | . Baseado no Livro: O Pagador de PromessasDias Gomes | . Ano: 1962 | . Cinema Nacional | . Duração: 1h 38min | . 5

 

   Olá pessoal!

   A história teatral de O Pagador de Promessas de Dias Gomes é considerada uma tragédia clássica da literatura brasileira e devo confessar que foi uma leitura sensacional. Zé do Burro é um personagem simples, mas tão grandioso que decidi conferir a versão cinematográfica de 1962 após a leitura e fiquei bastante satisfeita com a fidelidade do filme com o texto de Dias Gomes.

   Filmado na Igreja do Santíssimo Sacramento, no Pelourinho, em Salvador, o filme começa com Zé do Burro (Leonardo Villar) no terreno de candomblé em frente à imagem de Santa Bárbara, terminando de rezar e logo em seguida, caminhando com sua esposa Rosa (Glória Menezes) ao seu lado enquanto está carregando uma enorme cruz de madeira. Zé do Burro é dono de um pedaço de terra no interior da Bahia e quando seu amigo de estimação, um burro chamado de Nicolau ficou doente, ele fez a promessa de dividir sua terra igualmente com os mais pobres da sua região e levaria uma cruz, desde sua propriedade até a Igreja de Santa Bárbara em Salvador.

    Nicolau recuperou-se e Zé do Burro começou sua jornada para capital da Bahia para cumprir sua promessa. Assim que chegaram lá, eles conheceram um cafetão chamado de Bonitão (Geraldo Del Rey) que depois de meia dúzia de palavras, conseguiu levar Rosa para o hotel durante o tempo que Zé do Burro permaneceu do lado de fora da igreja esperando que ela abra. Acontece que Zé do Burro foi impedido de entrar na igreja para cumprir sua promessa, assim que o Padre Olavo (Dionísio Azevedo) descobriu que Zé do Burro fez a promessa no terreno de Candomblé e por isso, a promessas não era para Santa Bárbara e sim, para Iansã.  

    É preciso ficar ciente que se trata de um filme de 1962, com poucos recursos e filmado em preto e branco. No texto de Dias Gomes, Zé do Burro é apresentado no momento que está chegando à igreja de Santa Bárbara, enquanto no filme, o espectador tem a chance de ver o percurso que Zé do Burro fez debaixo de sol e chuva carregando a cruz até chegar à igreja. Zé do Burro não esperava sua proibição de entrar na igreja por causa da diferença de religiões mencionada pelo padre Olavo. Iansã do candomblé ou Santa Bárbara da Igreja Católica, o que realmente importava para Zé do Burro, era o milagre que foi concedido ao burro Nicolau e por ser um homem humilde, ele apenas desejava cumprir sua promessa e retornar para casa.

     O Pagador de Promessas é uma poderosa reflexão sobre a devoção pessoal, pois a fé do Zé do Burro é enorme, contudo ele encontrou muita hipocrisia. Algumas pessoas aproveitaram da ingenuidade e inocência do Zé do Burro. Um bom exemplo disso é o jornalista do jornal local interpretado pelo Othon Bastos que aproveitou da informação que Zé do Burro tinha dividido suas terras do sítio com os lavradores pobres em favor da reforma agrária. Além da discriminação, Zé do Burro também acabou sofrendo exclusão nas práticas religiosas, onde o grande destaque ficou com Dionísio Azevedo interpretando o Padre Olavo. O sacerdote não aceitou a promessa, porque foi feita a uma santa do candomblé e não a santa católica, sendo que é a mesma santa nas duas religiões com nomes diferentes.

    Enfim, O Pagador de Promessas é uma obra prima do clássico brasileiro onde vale muito à pena assistir em qualquer momento da sua vida. Recomendo a leitura da peça teatral e a versão cinematográfica de 1962. Ambos são maravilhosos em mostrar a cara do Brasil e por incrível que pareça, depois de anos, ainda é uma situação atual em relação ás crenças e valores da fé.

 

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Beijos e até a próxima!