. Título: Cabra das Rocas | . Autor: Homero Homem | . Editora: Ática | . Coleção: Vaga-lume #2 | . Ano: 1973 | . Literatura Brasileira | . 96 Páginas | . 4

 

   Olá pessoal!

   Publicado originalmente em 1966, Cabra das Rocas escrito pelo Homero Homem, entrou na coleção Vaga-lume em 1973 logo após a publicação de A Ilha Perdida. Não é a primeira vez que leio Cabra das Rocas, mas confesso que é a primeira vez que a leitura teve alguma importância no contexto social.

   João Brás Bicudo é um menino de onze anos que é filho e neto de pescadores que morava nas rocas, bairro localizado na Zona Leste de Natal que é habitado pelos pobres e também, pelas famílias de pescadores. João passa a maior parte de seu tempo com a Dona Laura, sua madrasta, pois sua mãe faleceu e seu pai Mestre Brás é um marinheiro sai constantemente em alto mar para trabalhar. Logo nas primeiras páginas, o leitor fica sabendo que João está matriculado para fazer o exame de admissão no Colégio Estadual do Atheneu Norte-Riograndense, um prestigiado e tradicional escola do Rio Grande do Norte onde é frequentado pelos ricos.

   Para conquistar este sonho de estudar no Atheneu, João precisou enfrentar vários obstáculos, pois é um canguleiro, um morador de condição social inferior aos xarias, que vivem na Cidade Alta, onde a escola estava localizada e tem facilidade de entrar no colégio por causa dos recursos financeiros. Contudo João conseguiu a ajuda do Seu Geraldo, um farmacêutico local que ampara todas as pessoas sem se preocupar com lucros financeiros e resolve dar aulas particulares para João ingressar no colégio.

   Cabra das Rocas é uma história infanto-juvenil, mas que contém um conteúdo que faz refletir sobre a desigualdade social e analfabetismo. Não deixa de ser uma história interessante, mas também, eu não acho que seja um livro que irá agradar os jovens, especialmente a juventude atual. Confesso que na ocasião que li a primeira vez, não foi uma leitura prazerosa, pois eu desejava ler outros tipos de histórias. Lendo na fase adulta, consegui compreender melhor o contexto da história. Ela foi lida com os olhos e mente amadurecida.

   João sofreu preconceitos e durante a leitura, eu fiquei na torcida para ele conseguir uma vaga no colégio Atheneu. As dificuldades de uma pessoa desfavorável querer mudar de vida e progredir são, geralmente, grandes, porque nem sempre é vista com bons olhos. Principalmente de colegas e até mesmo dos mais próximos, os familiares que tinham pouco, ou quase nenhum, estudo.  Entretanto, em Cabra das Rocas, o autor deixa bem claro que, João convivia com pessoas humildes que priorizava o trabalho e não tinha tempo para o estudo, que era oferecido de maneira natural aos filhos dos ricos, ou melhor, aos xarias.

   João estava tentando romper as barreiras da diferença social, pensando diferentes dos canguleiros da região  que na maioria das vezes, iam atrás do Seu Geraldo para escrever cartas, ajuda-los em variados assuntos e até para resolver seus casos de amor. João foi a única pessoa que pediu ajuda ao farmacêutico para se tornar independente daquela situação. Ou seja, João era o primeiro grande exemplo a ser seguido pelos canguleiros.   

   Enfim, Cabra das Rocas foi relido e com certeza, valeu muito a pena. Proporcionou uma boa leitura. Recomendação para os leitores que desejam conhecer a série Vaga-lume da editora Ática e gostam de apreciar literatura clássica nacional.

 

Confira todas as resenhas do projeto:

Coleção Vaga-lume 

 

“Seja canguleiro, João, acima de tudo canguleiro. Mas seja canguleiro estudando, aprendendo, indo para diante, como fazem os xarias lá do outro lado.”

 

    Sobre o autor:

   Homero Homem de Siqueira Cavalcanti nasceu em Canguaretama, Estado do Rio Grande do Norte no dia 5 de Janeiro de 1921 e faleceu dia 17 de Julho de 1991 no Rio de Janeiro. Descendente de tradicional família nordestina, é o sexto filho do casal Joaquim Homem de Siqueira Cavalcanti Filho e Elisa Martins. Foi professor, jornalista e repórter do Diário de Notícias. Sua estréia em livro deu-se em 1954, com um longo poema em prosa — A Cidade, Suíte de Amor e Secreta Esperança. Pelo número de edições dos seus livros constata-se que Homero Homem é o mais lido de todos os ficcionistas norte-rio-grandenses. É também o único com livro traduzido ("Gente delle Rocas", versão italiana de "Cabra das Rocas", por Laura Draghi e Danuza Garcez Ourique - Editora Giunti Marzocco, Florença, 1977). Entre os poetas modernos brasileiros, Homero Homem pode ser definido como neo-romântico, pós-Geração 45.

 

   Beijos e até a próxima!