. Título: Tieta do Agreste | . Autor: Jorge Amado | . Edição Lida: Record | . Editora Atual: Companhia das Letras | . Ano: 1977 | . 6ª Edição | . 592 Páginas | . Literatura Brasileira | . 5★❤
Olá pessoal!
Assim que terminei de assistir a novela Tieta, lançada em 1989 e recentemente foi reprisada em Vale a Pena Ver de Novo pela TV Globo, aproveitei para conhecer a versão literária escrita pelo Jorge Amado. É a primeira vez que leio Tieta do Agreste e posso dizer que, apesar de considerar a novela bastante fiel a escrita de Jorge Amado, eu fiquei surpresa com algumas situações que foram modificadas do livro para a novela. Eu sou a favor que certos assuntos e cenas é melhor ficar apenas no papel, para o próprio leitor ler e tirar sua conclusão, mas não leve meu pensamento para o lado negativo, porque a cada livro lido de Jorge Amado, estou ficando encantada com a riqueza da escrita. Terminei a leitura de Tieta do Agreste sentindo um carinho sentimental pelas duas versões de Tieta.
Publicado em 1977, a história de Tieta do Agreste começa relativamente calma para transportar o leitor para a pequena cidade fictícia chamada Santana do Agreste para contar a história de Maria Antonieta Esteves, também conhecida como Tieta que foi pastora de cabras na adolescência. Santana do Agreste é descrita como uma cidade pobre, como tantas cidades espalhadas pelo Brasil e na maioria das vezes, esquecidas pelo poder público, mas que consegue sobreviver graças à força e principalmente a coragem da sua população que vive seu dia a dia com muito trabalho. Por ser um lugar pacato e atrasado em relação ao progresso, maioria das pessoas de Santana do Agreste gosta de preservar dos bons costumes.
Ao contrário de outras pessoas da cidade, especialmente as mulheres, Tieta era considerada uma moça de personalidade forte que não encaixava aos padrões de vida da região. Enquanto as moças resguardavam a virgindade até o casamento, Tieta era diferente. Era confortável com sua sexualidade exuberante e tinha uma vida sexual bem agitada. Tanto que conseguia arrancar suspiros e admiração dos homens da cidade. Contudo, o espírito livre de Tieta provocou inveja em sua irmã mais velha, Perpétua, que resolveu denunciar ao pai, Zé Esteves. Ao saber da má reputação da filha, Zé Esteves escorraçou de casa e bateu em Tieta com seu cajado de marmelo para todas as pessoas da região ver. Não suportando a vergonha, Zé Esteves ordenou que Tieta sumisse no mundo e longe de Santana do Agreste, Tieta cresceu e tornou-se uma das maiores cafetinas de São Paulo.
Ao longo dos anos Tieta perdoou Zé Esteves pela humilhação e passou enviar cartas todos os meses, com um chefe para ajudar a família que permanecia em Santana do Agreste sem saber da sua real fama. Para eles, Tieta tinha ficado rica ao casar-se com o Comendador Felipe Cantarelli, um homem poderoso e influente da alta sociedade de São Paulo. Sabe aquela velha hipocrisia falando mais alto? Tem-se dinheiro, tudo é esquecido! Para a população de Santana do Agreste, Tieta era a filha digna que perdoou o pai e ajudava a família. Entretanto, a carta com o cheque que Tieta sempre enviava atrasou e a agourenta da Perpétua, deduziu que Tieta havia morrido. A notícia tornou-se um verdadeiro alvoroço, pois todos da família iriam perder a mesada, mas Perpétua já tinha a solução.
Como Tieta não tinha nenhum filho, Elisa que era casada com Astério ( na novela é conhecido como Timóteo) e também não tinha filhos e Zé Esteves estava idoso, Perpétua concluiu que seus filhos, Ricardo e Peto, eram os únicos herdeiros de Tieta. Sem perder tempo, Perpétua providenciou um funeral com direito a cortejo e missa. Contudo Carmosina acabou com a festa de Perpétua ao ler a carta que Tieta enviou com atraso. Junto com o cheque do mês, Tieta informava à família que realmente teve uma morte e quem tinha morrido era Felipe, seu marido. Por esse motivo, o cheque mês tinha atrasado e que também estava informando que resolveu retornar à Santana do Agreste para visitar os parentes e amigos, levando sua enteada Leonora.
O retorno de Tieta foi transformado num evento repleto de comoção. Todos queriam presenciar a chegada da filha pródiga e abraçá-la. Mais uma vez, Perpétua tomou a frente da situação e não deu certo, pois aguardavam uma Tieta triste e vestida de luto fechado e desceu da marineti de Jairo, uma Tieta totalmente diferente. A verdadeira intenção de Tieta era passar um mês em Santana do Agreste para comprar uma casa na região e um terreno em Mangue Seco para construir outra casa para morar durante sua velhice, pois tinha certeza que em Santana do Agreste ninguém sabia da sua verdadeira profissão. A principio, Tieta conseguiu conquistar seus objetivos. Ajudou a família, mais do que já ajudava, comprou a casa na região, o terreno e mandou construir uma casa em Mangue Seco.
Até Leonora estava conquistando objetivos em Santana do Agreste. Conheceu Ascânio e ambos estavam apaixonados, porém Ascânio não sabia do passado de Leonora e sua verdadeira identidade. Ele imaginava que estava envolvendo com uma moça pura e pretendia pedir a mão de Leonora em casamento. Sendo secretário da prefeitura que praticamente exercia todas as tarefas de um prefeito, pois o verdadeiro prefeito, Coronel Arthur da Tapitanga, era um chefe político que mal trabalhava e Ascânio acreditava que o futuro de Santana do Agreste estava nas mãos do progresso. Com a ajuda de Tieta, Ascânio conseguiu que a energia elétrica da hidrelétrica de Paulo Afonso, fosse instalada na cidade.
Há anos Santana do Agreste era iluminada por um gerador que funcionava das sete até as nove da noite, mas com um telegrama de Tieta, a instalação da luz estava a caminho. Então a estadia de Tieta foi adiada para três meses, pois ela prometeu ficar para inauguração da luz e assim, Leonora e Ascânio ganharam mais tempo para ficarem juntos. Entretanto a Brastânio,uma poderosa empresa de dióxido de titânio, desejava construir uma fábrica em Mangue Seco. Fábrica que ameaçava destruir o paraíso natural e as praias de Mangue Seco, mas acreditando que seria uma ótima oportunidade para o município, a Brastânio tinha o apoio de Ascânio, que não imaginava ter criado um conflito com as pessoas que eram a favor da preservação da natureza em Mangue Seco.
Considero Tieta do Agreste um ótimo livro, mas não é uma leitura tão fácil como imaginei. Não é apenas a história de Tieta, mas sim, de todos os moradores de Santana do Agreste. Tieta é a personagem principal, entretanto os personagens secundários são carismáticos e contribuíram para o desenvolvimento da história. Confesso que fiquei bastante empolgada para iniciar a leitura logo que comecei acompanhar a novela, mas decidi assisti-la primeiro e após o término dela, dedicar a experiência literária sem misturar com a experiência da novela e foi muito bom agir dessa maneira. Porque, eu terminei a novela com aquela pontinha de saudade dos personagens e satisfeita de ter embarcado numa história tão boa.
Então eu aproveitei essa empolgação para mergulhar na leitura e saí dela amando ainda mais a escrita de Jorge Amado. Sei perfeitamente que seria uma leitura longa e demorada, porque Jorge Amado era um escritor que gostava de cutucar as feridas e joga temas que ainda pode ser discutido no nosso dia a dia. O leitor é transportado para um Brasil dos anos 60, para o interior nordestino abandonado pelo governo que tentava buscar modernização, mas ainda estava sobrevivendo com as dificuldades precárias. Santana do Agreste não tinha luz e as ruas eram empoeiradas, no entanto foi presenteado com praias deslumbrantes e cativantes e o Brasil ainda tem lugares com essa descrição, segurando nas mãos de algum Ascânio da vida para ser reconhecida no mapa. Ao mesmo tempo em que Santana do Agreste precisa de uma oportunidade para ser posta no mapa para crescer economicamente, ela é descrita com muita riqueza por causa das paisagens paradisíacas e sua calmaria.
O maravilhoso narrador intruso e às vezes, irônico, que julgava alguns personagens, mostrou claramente a hipocrisia moral de algumas pessoas vivendo de aparências. Vou citar Perpétua, mas no livro contém outros personagens que escondiam os seus próprios erros, no entanto adorava apontar os erros e desejos dos outros. Completamente o oposto de Tieta que vivia fora das regras, Perpétua era extremamente conservadora, religiosa e apoiadora da moral e bons costumes, mas julgava todas as pessoas ao seu redor, cobiçava o dinheiro da irmã e era avarenta. Um dos melhores trecho do livro foi mostrar a opinião de Perpétua quando a Brastânio deixou na Prefeitura alguns presentes de Natal para presentear às crianças pobres, mas a distribuição mal organizada gerou uma grande confusão.
Já Elisa... Ah, Elisa. Ela era ingênua e uma sonhadora. Com a chegada de Tieta, ela enxergava uma oportunidade de ir embora do Agreste com ou sem Astério, mas Tieta mostrou o caminho para esse casal. Por isso não vou entrar na sexualidade sem tabu e tratada de forma aberta e direta que Jorge Amado geralmente, mostra em seus livros. Tieta contém temas polêmicos em relação ao sexo que hoje são tratados de forma diferente da ocasião que o livro foi escrito. Cada leitor deve lidar com esse assunto da sua maneira, mas tenho que alertar.
Prolonguei demais em minha opinião, mas pode ter certeza, não contei muitos fatos deste calhamaço de 600 páginas. Especialmente os detalhes que diferencia o livro da novela de Aguinaldo Silva. Ricardo e Peto são bem diferentes da novela. Descobri que Tieta ganhou uma versão cinematográfica em 1996 dirigida por Cacá Diegues e vou saciar minha curiosidade. Enfim, caso tenha curiosidade de conhecer Tieta na versão original, leia Tieta do Agreste de Jorge Amado.
Confira todas as resenhas sobre Tieta do Agreste.
“– Essa gentinha não merece a caridade de ninguém. Então, os homens mandam um avião de presentes e o resultado é essa vergonheira… Até dá nojo. Tieta toma a defesa do povo de Agreste, humanidade sofrida, condenada à miséria, cujos filhos não conhecem outros brinquedos além de bruxas de pano e caminhões feitos com restos de madeira, tampas de cerveja no lugar de rodas.”
Sobre o Autor:
Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912, em Itabuna, na Bahia, filho de João Amado de Faria e Eulália Leal. Começou a escrever profissionalmente como repórter aos catorze anos, em veículos como Diário da Bahia, O Imparcial e O Jornal. Na década de 1930 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde estudou direito e travou contato com artistas e intelectuais de esquerda, como Raul Bopp, Rachel de Queiroz, Gilberto Freyre, Graciliano Ramos, Vinicius de Moraes e José Lins do Rego. Estreou com o romance O país do Carnaval (1931). Durante o Estado Novo (1937-45), devido à sua intensa militância política, sofreu censuras, perseguições e chegou a ser detido algumas vezes. Foi eleito deputado federal pelo PCB em 1945. Entre os projetos de lei de sua autoria, estava o que instituía a liberdade de culto religioso. Nesse mesmo ano, conheceu Zélia Gattai, com quem se casou, teve dois filhos, João Jorge e Paloma, e viveu até os últimos dias. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1961, e ganhou prêmios importantes da literatura em língua portuguesa, como o Camões (1995), o Jabuti (1959 e 1997) e o do Ministério da Cultura (1997). A partir da década de 1980, passou a viver entre Salvador e Paris. Sua obra está publicada em mais de cinquenta países e foi adaptada com sucesso para o rádio, o cinema, a televisão e o teatro, transformando seus personagens em parte indissociável da vida brasileira. Jorge Amado morreu em 2001, alguns dias antes de completar 89 anos.
Beijos e até a próxima!
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